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SANTA TIETAGEM!


Artistas e gravadoras do segmento evangélico adotam novas terminologias para reforçar o caráter espiritual de seu trabalho

Artistas ou adoradores? Carreira ou ministério? Os termos se confundem quando o assunto é música gospel. Massificada a partir do fim dos anos 1980 como fenômeno cultural de massa, a música evangélica criou ídolos e estabeleceu um mercado milionário. Alguns dos mais expressivos nomes do segmento, como Cassiane, Kleber Lucas ou Ana Paula Valadão, foram alçados ao panteão das celebridades, arrastando multidões de fãs por onde passavam. Pois, agora, parece estar havendo um refluxo. Ainda não dá para saber se o movimento é espontâneo ou se trata apenas de mais uma estratégia de marketing – mas o fato é que músicos, cantores e gravadoras cristãs estão deixando de lado expressões próprias do showbiz e adotando uma nomenclatura, digamos, mais espiritual.

Assim, cantores viraram adoradores, fãs agora são chamados de intercessores e os shows viraram ministrações.

Até as sessões de fotos e autógrafos, ocasiões propícias à tietagem explícita, estão com uma nova roupagem e viraram apenas “encontros para dedicatórias”. “A gente tem tido o cuidado, nas ministrações, de passar a mensagem de que não somos artistas, e sim ministros”, explica, medindo bem as palavras, o baterista André Matos, do ministério de louvor Trazendo a Arca. Recentemente, o grupo acendeu ainda mais a polêmica, ao desligar-se do Toque no Altar, ligado ao Ministério Apascentar. O rompimento teria sido motivado por desentendimentos financeiros, fenômeno tão comum na música secular. “Embora tudo seja preparado para um show – a luz, o palco, o som –, o que fazemos são cultos”, explica o músico. Mesmo assim, ele não se furta a atender os fãs – ops! – intercessores. Na última Expocristã, mostra que reúne boa parte da indústria fonográfica evangélica nacional (ver matéria anterior), a jovem Elizabete Santos, de 19 anos, membro da Igreja Avivamento da Fé, estava toda emocionada ao conseguir sua foto ao lado de André.

“Precisamos quebrar esse espírito maligno de idolatria que está sobre o Brasil”, pontifica a cantora Nívea Soares, do ministério de louvor Diante do Trono. Acostumada a ver multidões nas apresentações do grupo – algumas delas com mais de um milhão de pessoas –, ela diz que aproveita todas as oportunidade para estar junto com as pessoas e desmitificar a própria imagem. “Precisamos sair da plataforma e mostrar o que a gente é, ou seja, pessoas dependentes do Senhor como todos.” O pastor e cantor André Valadão concorda: “Nossa presença em capas de revistas e nas imagens dos CDs e DVDs cria uma impressão que não corresponde à realidade”, explica.

Intérprete de sucessos como Milagre, André ganhou projeção devido à sua participação no Diante do Trono ao lado da irmã Ana Paula – mas agora sabe que é tido por muita gente como referencial. “É necessário que o público encontre isso em algumas pessoas. Deus tem nos dado essa graça.” Aguardando que André atendesse ECLÉSIA, Sabrina Sales Carrocci, 25 anos, da Primeira Igreja Evangélica Batista de Embú das Artes (SP), preparava-se para tirar sua foto com a filha Heloísa, de um ano, nos braços. E era só elogios: “Conheço várias pessoas que foram ganhas para Jesus pelas músicas dele”.

Identificação – Para a psicóloga clínica Rosângela Conceição Souza, essa mudança na terminologia é uma maneira de tentar resguardar os artistas cristãos do estrelismo. Entretanto, lembra que a simples utilização de expressões não é capaz de tornar alguém mais ou menos espiritual: “O que diferencia a pessoa é seu posicionamento e a mensagem que passa pela sua vida”, lembra a terapeuta, que é membro do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC). “Os ídolos têm um papel fundamental, sobretudo para os adolescentes e jovens, que é o de contribuir na formação de seu caráter e personalidade. Quando o fã se identifica com alguém famoso, há sempre um aspecto desta pessoa que acaba incorporado à sua personalidade.” “Temos que fazer como Jesus fazia, tratar cada um na sua individualidade e pedir sabedoria ao Senhor para lidar em todas as situações,” acredita a cantora Talita Plagliarin, da Igreja Paz e Vida.

Rodolfo Abrantes, antigo vocalista da banda Raimundos e hoje pastor da Igreja Bola de Neve, diz que entende a tietagem como demonstração de carinho. “Mas existe muita falta de entendimento também. Tratar o cantor como estrela, como ídolo, é meio mau, mas a gente não tem como saber quem é quem, então, amém, Deus sabe”, diz no seu jeito característico. Ele admite que não gosta de ficar tirando fotos com fãs, mas esforça-se para atender todos com gentileza. “Eu já fui mal-educado com muita gente, não quero mais isso”, resume.

Do lado de lá do palco (ou altar, dependendo do ponto de vista), o público crente nutre sentimentos diversos por seus artistas favoritos. E, se existe mesmo a tietagem explícita, muita gente prefere outro caminho. A relação de Edivaldo Pereira de Souza, presbítero da Assembléia de Deus Ministério Belém, com a cantora Lauriete vai muito além do deslumbramento. “Sempre oro por seu ministério, para que ela seja cada vez mais cheia do Espírito Santo, para ser abençoada e abençoar as nossas vidas”, comenta. A cantora corresponde ao carinho: “Eu louvo a Deus porque no meio de tanta gente que nos admira, há também os intercessores, que pedem ao Senhor pela nossa vida e pelo ministério”. Depois de esperar numa fila e conseguir uma foto com o cantor Chris Duran, Juliana Priscila Silva, 19 anos, da Igreja Unida do Parque Cruzeiro do Sul, em São Paulo, explicou o motivo: “O Chris não era evangélico. Gosto de ver de perto o testemunho das pessoas. Ele mostra que é realmente um cristão, que mudou, acho legal a pessoa transparecer isso publicamente”.

O veterano Adhemar de Campos, pastor e autor de centenas de canções evangélicas, não vê problemas em dar autógrafos ou atender os pedidos das pessoas: “Para mim, isso é a continuação da minha realidade de vida cristã como pastor. Como seguidores de Cristo, devemos obedecer seu mandamento de amar as pessoas”, defende. Ele acaba de lançar seu novo trabalho, Comunhão e adoração 6, e sabe que terá que assinar seu nome em muitas capas de CD. Sem problema – “Vamos andar no caminho da simplicidade, fazendo aquilo que agrada a Deus, e vai dar tudo certo”, resume.

ESTER TAMBASCO
via ECLÉSIA

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