Otto Maduro definiu religião como "um conjunto de discursos e práticas, referente a seres anteriores ou superiores ao ambiente natural e social, em relação aos quais os fiéis desenvolvem uma relação de dependência e obrigação" Religião e luta de classes. Petrópolis: Vozes, 1981. Por trás de toda experiência religiosa existe uma mesma lógica: a relação de dependência e obrigação entre os deuses e seus fiéis. Como numa espécie de contrato, as partes estão comprometidas: o fiel obedece e cumpre obrigações e o tal deus recompensa abençoando. Na lógica religiosa "não existe almoço grátis". Outra maneira de dizer isso é afirmar que a religião está baseada na relação de méritos, que resultam em bênçãos, e deméritos, que resultam em maldições. Para que um determinado deus faça alguma coisa, os seus seguidores devem cumprir obrigações para com ele. O favor dos deuses custa caro.
Nesse sentido, o Cristianismo é o fim da religião, pois faz desmoronar a lógica da justiça retributiva. A mensagens dos apóstolos e dos cristãos chamados primitivos faz surgir no cenário religioso do mundo antigo uma novidade que até hoje ainda não foi bem compreendida. A surpreendente novidade do Cristianismo atende pelo nome de Graça de Deus. O Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo é singular: ele não pode ser comprado. Não há nada que uma pessoa possa fazer para merecer o favor de Deus. Não há nada que uma pessoa possa fazer para atrair sobre si a ira de Deus. Essa é a essência da obra de Jesus Cristo na cruz do Calvário: "Deus em Cristo estava reconciliando consigo o mundo, não levando em conta os pecados dos homens ... Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado (Cristo), para que nele (Cristo) nos tornássemos justiça de Deus" 2Coríntios 5.18,20.
A partir de Jesus Cristo não mais precisamos temer a ira de Deus, pois "nenhuma condenação há para aqueles que estão em Cristo" Romanos 8.1, e não precisamos mais barganhar com Deus para alcançar seu favor, pois "Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente com Ele, e de graça, todas as coisas?" Romanos 8.32. Libertos das obrigações em relação a Deus, estamos livres dos estreitos limites impostos pelos ritualismos e moralismos da lógica religiosa, o que nos exige responder por que, então, ainda nos dedicamos a fazer a vontade de Deus. Somente uma resposta é possível: fazemos a vontade de Deus porque a graça de Deus assemelha nosso coração ao coração de Deus. Antes, escravizados pela lógica "obedecer para receber a bênção", fazíamos a vontade de Deus para fugir de sua ira e alcançar o seu favor. Agora, libertos pela graça, fazemos a vontade de Deus porque a ela nosso coração se afeiçoou: fomos transformados no entendimento, e passamos a considerar a vontade de Deus algo bom, perfeito e agradável Romanos 12.1,2. Aquele que foi alcançado pela graça, já não tem obrigação de fazer a vontade de Deus. Mas tem prazer Salmo 1.2. São esses os que podem dizer: "Pela graça de Deus, sou o que sou, e sua graça para comigo não foi inútil" 1Coríntios 15.10.
Ed René Kivitz
Via Irmãos.com
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A surpreendente novidade
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